31 de outubro de 2012

4º Chá, torradas, música e poesia

Hoje teremos nosso 4º encontro cultural.
Com o tema O FEMININO NA ARTE, haverá leitura destes poemas e pensamentos:


CLARICE LISPECTOR

SONHE

"Sonhe com aquilo que você quiser. 
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer. 
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. 
Dificuldades para fazê-la forte. 
Tristeza para fazê-la humana. 
E esperança suficiente para fazê-la feliz. 
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. 
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. 
A felicidade aparece para aqueles que choram. 
Para aqueles que se machucam. 
Para aqueles que buscam e tentam sempre. 
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. 
O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. 
Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. 
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade..." 
(Clarice Linspector)


Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." 
Clarice Lispector


“Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu.

Entendi então que eu, já tinha sido os outros e isso era fácil. 
Minha experiência maior seria ser o outro dos outros:  E o outro dos outros era eu.” 
Clarice Lispector


Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora? Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos meus modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.Vivo em escuridão da alma, e o coração pulsando, sôfrego pelas futuras batidas que não podem parar". - 
Clarice Lispector





FLORBELA ESPANCA


Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

Florbela Espanca


Cegueira Bendita


Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me segou!
Não vejo nada, tudo é morto e vago...
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nanúfar dum lago
'Stendendo as asas brancas cor do sono...
Ter dentro d'alma a luz de todo mundo
E não ver nada neste mar sem fundo,
Poetas meus irmãos,que triste sorte?...
E chamam-nos a nós iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte! 
Florbela Espanca




CECILIA MEIRELES

"Não sejas o de hoje.

Não suspires por ontens.....
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabe que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade...
É a eternidade.
És tu.

Cecília Meireles

Motivo 

Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada

Cecília Meireles

“Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz.
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhe falares.”
Cecília Meireles


"No mistério do sem-fim 

equilibra-se um planeta. 
E, no planeta, um jardim, 
e, no jardim, um canteiro; 
no canteiro uma violeta, 
e, sobre ela, o dia inteiro, 
entre o planeta e o sem-fim, 
a asa de uma borboleta."

Cecília Meireles


Retrato

"Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, 
assim magro,
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo
eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas
eu não tinha este coração 
que nem se mostra
eu não dei por esta mudança tão simples, 
tão certa, tão fácil
em que espelho ficou perdida minha face?" 
Cecília Meireles



CORA CORALINA

Não sei... se a vida é curta
ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
Mas que seja intensa,
verdadeira, pura...
Enquanto durar.

Cora Coralina

"Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores."
Cora Coralina


29 de outubro de 2012

QUAL É A MISSÃO DE UMA MULHER XAMÃ?



Quando uma mulher é desperta em si mesma...ELA PODE AJUDAR A DESPERTAR OUTRAS MULHERES. Quando essa mulher percorre a sua via própria e o seu ser total é integrado, (naturalmente acontece depois das três fases da vida da mulher - jovem, mulher e velha) ela pode ajudar a despertar essa Consciência de Ser Mulher integral nas outras mulheres...seja pela sua presença, seja pelas suas palavras...Mas para isso acontecer é preciso que a outra mulher (jovem, madura ou velha) esteja aberta e receptiva...seja humilde e simples...nunca uma intelectual nem com um ego inflaccionado! Senão há sempre o risco de um momento de revolta ou de ódio...
Quanto à mulher para ser uma verdadeira Xamã...tem de estar acima da lisonja e da vaidade pessoal...não pode ter auto-comiseração por si nem pelas outras mulheres...ela tem de ser sempre impecável...e ser impecável é ser muitas vezes implacável. RLP (Rosa leonorPedro)

SENTIMENTALIDADE... E SENTIMENTOS...





 
O que eu defino por sentimentalidade nas pessoas, nomeadamente nas mulheres, é quando estas se focam muito no seu sofrimento pessoal como forma de chamar a atenção dos outros, dos amigos ou da família onde supostamente foi ou é vítima, e que de forma algo masoquista procura atrair simpatias e pena, mas não querem sair dele. 
Ora acontece e convém esclarecer que um grupo é ou deve ser uma dinâmica de trabalho focado em nós mesmas para uma tomada de consciência, de partilha de problemas comuns, é certo, mas relacionados com a vontade de sairmos dos nossos impasses e dramas e não para entreter ou afagar as nossas mágoas e muitas vezes de quem não quer fazer nada consigo e prefere chorar sobre o leite derramado, ou então manter tudo como está e andar em círculos a volta dos seus sentimentos de perda, de raiva, de ódio, de competição, de injustiça, de culpa ou de acusação…

- A sentimentalidade, digamos,  é o excesso de sentimentos negativos, quase sempre, e um pouco inúteis porque quase sempre  ligados à falta de auto-estima, à susceptibilidade extrema e ao melindre pessoal, e que fazem das nossas vidas um inferno...nem  sempre é fácil porém distinguir essa sentimentalidade dos sentimentos verdadeiros, mas também não é só uma questão de semântica.

Existe uma diferença abissal entre os sentimentos banais, as dores pessoais, e com isto não digo que não sejam reais, - mas que nós mulheres gostamos muito de explorar e viver muitas vezes à conta deles - e os sentimentos profundos, o SENTIR que nos faz ir mais fundo e nos dá consciência e servem de alavanca para sairmos deles e ir para lá dessas especulações ou exploração das emoções primárias, das dores passadas...

Também achamos e não é o mais comum pensar assim, que todo o sofrimento é muito válido, mas não é bem assim. Há um sofrimento que nos torna dignas… e há um sofrimento indigno…

É verdade que nem sempre se pode distinguir em nós o sofrimento especulativo que nos mantêm cativas da dor (vivido na identificação com a eterna vítima ou como o predador, do lado de quem tem de castigar o culpado da nossa dor, ou como salvador/as de alguém que coitadinha sofre muito) e a não ser que se faça todo um trabalho de consciência connosco primeiro, um trabalho de foro psicológico para começar, vamos passar a vida a queixarmo-nos dos nossos males sem mudar nada em nós nem nos outros. Pensamos que ajudamos e não ajudamos nada.
Há muita gente a confundir pena, bondade e caridade, com amor. Ou que temos de ser sempre compassivas, boazinhas e aceitar tudo umas das outras etc. etc. Mas não. Eu sofro, pessoalmente e pelo sofrimento que vejo no mundo e por isso respeito o sofrimento em particular das outras mulheres, e até homens, mas não sou conivente com esse falso amorzinho e “curas em milagres” nem vou misturar ou meter tudo nesse saco que são as "alternativas" new age, que apregoam o amor incondicional, por sinal bastante bem caro…
Na verdade não tenho SACO!

 
EU PREFIRO O TRATAMENTO DE CHOQUE?

Eu sei que às vezes eu pareço fria demais e firo as (susceptibilidades) sensibilidades...eu sei isso. Mas cada vez mais - sim, à medida que envelheço - sinto que não há tempo a perder com a sentimentalidade...Nós mulheres gostamos muito do sentimentalismo como gostamos do romantismo etc. Gostamos de fazer de vítimas… ou heroínas ou salvadoras; ou queremos muitas vezes, quase sempre, chamar a atenção para nós: sou bonita ou feia, inteligente ou carente, mas sobretudo a tónica é: “vê o que eu sofro ou sofri”... E é aí que eu entro muitas vezes a matar e sei que dói...ou arde, mas o que arde cura. É, dizem-me, tratamento de choque, e eu digo que é puro exorcismo...mas eu não vou dizer que sou isto ou aquilo ou que sou Bruxa. Acontece...acontece quando eu menos espero...

Por favor isso não é NADA pessoal...mas é preciso acordar...de qualquer coisa que nos amarra nessa sentimentalidade...nesse romantismo serôdio e nos impede de uma liberdade verdadeira de SER…

 
ROSALEONORPEDRO

26 de outubro de 2012

Clarice Lispector, um pouquinho mais...


Clarice nasce em Tchelchenik, na Ucrânia, em 1920. Chega ao Brasil com os pais e as duas irmãs aos dois meses de idade, instalando-se em Recife. A infância é envolta em sérias dificuldades financeiras. A mãe morre quando ela conta 9 anos de idade. A família então se transfere para o Rio de Janeiro, onde Clarice começa a trabalhar como professora particular de português. A relação professor/aluno seria um dos temas preferidos e recorrentes em toda a sua obra - desde o primeiro romance: Perto do Coração Selvagem. Ela estuda Direito, por contingência. Em seguida, começa a trabalhar na Agência Nacional, como redatora. No jornalismo, conhece e se aproxima de escritores e jornalistas como Antônio Callado, Hélio Pelegrino, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Alberto Dines e Rubem Braga. Os passos seguintes são o jornal A Noite e o início do livro Perto do Coração Selvagem - segundo ela, um processo cercado pela angústia. O romance a persegue. As idéias surgem a qualquer hora, em qualquer lugar. Nasce aí uma das características do seu método de escrita - anotar as idéias a qualquer hora, em qualquer pedaço de papel.




Em 95, o escritor Caio Fernando Abreu, então colunista do jornal O Estado de São Paulo, publicou uma carta que teria sido escrita por Clarice Lispector a uma amiga brasileira. Ele comenta, no artigo, que não há nada que comprove sua autenticidade, a não ser o estilo-não estilo de escrita de Clarice Lispector. Ele dizia: "A beleza e o conteúdo de humanidade que a carta contém valem a pena a publicação..."



adorno



Retrato Carlos Scliar -72




adorno


Marcada pela solidão. Marcada pelo grande amor de sua vida. Marcada pela luta constante contra a quase miséria material. Marcada pelas mãos maceradas pelo fogo, em defesa da vida de um filho, e pela sombra da insanidade rondando a vida do outro." 
Tristão de Athayde.


Clarice por Clarice 10

“Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo".


"... eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter minha liberdade."

Fonte: http://tvcultura.cmais.com.br/aloescola/literatura/claricelispector/index.htm
http://claricelispectorclarice.blogspot.com.br/

25 de outubro de 2012

Clarice Lispector - Poemas


Mas há a Vida

Mas há a vida

que é para ser

intensamente vivida,

há o amor.

Que tem que ser vivido

até a última gota.

Sem nenhum medo.

Não mata.







Há momentos



Há momentos na vida em que sentimos tanto

a falta de alguém que o que mais queremos

é tirar esta pessoa de nossos sonhos

e abraçá-la.


Sonhe com aquilo que você quiser.

Seja o que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida

e nela só se tem uma chance

de fazer aquilo que se quer.


Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.


As pessoas mais felizes

não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor

das oportunidades que aparecem

em seus caminhos.


A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passam por suas vidas.


O futuro mais brilhante

é baseado num passado intensamente vivido.

Você só terá sucesso na vida

quando perdoar os erros

e as decepções do passado.


A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar

duram uma eternidade.

A vida não é de se brincar

porque um belo dia se morre.







Não te amo mais.


Não te amo mais.

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

EU TE AMO!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais…



Leia agora o texto de baixo para cima.



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Dá-me a Tua Mão
Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.


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A Perfeição
O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.