"A minha felicidade em dar se dissipa com a dádiva; a minha virtude cansou-se de si mesma pela sua abundância!
Quem doa sempre corre perigo de perder o pudor; quem distribui tem sempre mão e coração calejados pelo demasiado distribuir.
Os meus olhos não têm mais lágrimas para a vergonha dos suplicantes; a minha mão se tornou demasiado rude por sentir o frêmito das mãos cheias.
Donde vêm as lágrimas aos meus olhos e o calo ao meu coração? Oh! solidão de todos aqueles que dão! Oh! silêncio de todos aqueles que resplandecem!
Muitos sóis gravitam no espaço deserto; falam eles a tudo o que é obscuro, usando da sua luz; para comigo, emudecem.
Ah! esta é a inimizade da luz contra tudo que resplandece; inclemente, prossegue sua marcha.
Injusto no mais profundo do coração contra tudo aquilo que luz, frio para com os sóis, dessa forma todo sol ergue seu curso.
Como o furacão, os sóis prosseguem o seu caminho;, seguem a sua vontade inexorável; tal é a sua frialdade.
Oh! somente vós, obscuros, noturnos, sois os criadores do calor da luz. Só vós sugais leite reconfortador dos úberes da luz!
Ah! ao redor de mim tudo é gelo, gelo que queima as minhas mãos! Oh! eu tenho uma sede que anela a vossa sede!
É noite; agora o meu desejo brota de mim como de uma fonte - o desejo de falar.
É noite, falam agora mais fortemente todas as fontes borbulhantes. E a minha alma também é uma fonte borbulhante.
É noite; acordam agora todas as canções dos amantes. E também a minha alma é uma canção amorosa."
Friedrich Nietzsche