14 de setembro de 2012

Michelangelo - A Capela Sistina: imagens de beleza e genialidade

Dando prosseguimento às nossas postagens sobre Michelangelo, iniciadas em 2 de julho de 2010
Você pode acompanhá-las:
23 de maio de 2011, 30 de maio de 2011, 5, 11 e 20 de junho de 2011
indo até 1 de agosto de 2011.

Com poucos operários e após alguns problemas com os andaimes, a 10 de maio de 1508, Michelangelo começa o gigantesco trabalho no teto da Capela Sistina. São quatro anos de dificuldades e esforços desmedidos. Explorado pela família, que continuamente lhe exige dinheiro, posses e proteção, Michelangelo ainda enfrenta a impaciência do papa, que teme morrer antes de ver prontos os afrescos da capela. As visitas de Júlio II se fazem cada dia mais amiúde. Toda vez que pergunta a Buonarroti quando terminará a obra, o florentino lhe responde, um tanto agressivo: "Quando eu puder!" Roma inteira parece desacreditar que um dia Michelangelo termine o trabalho. Por duas vezes o artista chegou a pensar em abandonar a tarfa. A primeira quando a pintura do Dilúvio começou a se cobrir de mofo. A segunda, quando, num gesto intempestivo, o papa o agrediu a bengaladas, ao ouvir a resposta de sempre "Quando eu puder!"  Finalmente, apaziguadas as tensões, o florentino volta aos andaimes da composição. Sentindo a morte próxima, Júlio II dá-lhe um prazo definitivo para o término da obra.
No dia de finados de 1512, Michelangelo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. O teto da sistina mostra-se como uma síntese de poder e beleza. É um marco que registra os primeiros grandes passos do espírito mutante do Cinquecento, composto em estilística já anticlássica, ilustrando a desintegração da Renascença, assim como sua realização total e definitiva. Em destaque, a desproporção entre as dimensões das figuras individuais, sibilas e profetas, que dominam todo o teto, e os estreitos nichos de paredes em que elas se comprimem. Forçar as figuras num espaço restrito é uma característica de Michelangelo. Contorcidas violentamente em ângulos cada vez mais complicados, as figuras crescem proporcionalmente à estrutura que ocupam. O panorama global é uma história de tormentos e esforço, apontando para um futuro incerto do homem - essa criação de Deus com sua fé abalada.
Vencedor e vencido, glorioso e alquebrado, Michelangelo deixa o trabalho da capela e regressa a Florença. Vivendo em retiro, dedica-se a recobrar as forças minadas pelo prolongado trabalho. Vasari (1511 - 1574), seu biógrafo e discípulo, conta que naqueles quatro anos ela "estragara a vista de tal modo que muito tempo depois não podia ler uma carta ou olhar um objeto senão levantando-o acima da abeça, para vê-los melhor", conforme a posição que usou para enxergar com mais propriedade cada detalhe da obra. Tornara-se um homem feio  envelhecido, embora tivesse só 37 anos.

Fonte: Mestres da Pintura - Abril Cultural