O Cinquecento emerge mudando a configuração de poder na península Itálica. O novo pontífice, Júlio II, sobe ao trono papal em 1503, disposto a consolidar a hegemonia romana sobre as demais potências vizinhas. Tendo debilitado o poder dos Bórgias, em Milão, Júlio II firma-se como guerreiro. Dois anos de pontificado já são suficientes para caracterizar a grandeza de suas pretensões de domínio.
Em março de 1505, Michelangelo é chamado a Roma por Júlio II. Começa então o período heróico de sua vida. A idéia proposta ao artista é a de construir um mausoléu babilônico que encerrasse em si a memória de um papado de conquistas. Michelangelo propõe um túmulo de dimensões colossais, digno da Roma Antiga. Júlio II se entusiasma. Buonarroti passa oito meses em Carrara, selecionando os melhores e maiores blocos de mármore. Quando estes chegam à praça de São Pedro, provocam o assombro da população, ao mesmo tempo que excitam ainda mais as ambições do papa.
Michelangelo e o pontífice tornam-se íntimos. Vêem-se sempre para discutir o trabalho e tratam-se com certa ambilidade. Mas será uma amizade tumultuada pela inveja e por intrigas da corte. Bramante (1444 - 1514), arquiteto do papa, será o maior rival do genial florentino nesse embate. Trava-se entre ambos um duelo de titãs, mesclado de inveja prefídias. Bramante persuade o papa a desistir do projeto e substituí-lo por outro: a reconstrução da praça de São Pedro. Em janeiro de 1506, Júlio II aceita os conselhos de Bramante. Sem consultar Michelangelo, decide suspender tudo. O artista sente-se humilhado. Um ano de trabalho em vão. A 15 de abril de 1506, deixa a cidade santa, sem destino e sem projetos, cheio de dívidas.
Exasperado, volta a Florença. Logo em seguida é chamado a Roma por Júlio II. O pontífice exige sua presença e tem novos planos para ele. Michelanelo recusa, mostra-se intransigente. Por fim, nos últimos dias de 1506, vitorioso em Bolonha, animado por mais uma conquista, Júlio II se reconcilia com o artista. A nova incumbência que o aguarda é a construção de uma colossal estátua equestre do pontífice, em bronze, a ser erigida em praça bolonhesa. Um trabalho difícil, construído ao longo de quinze atormentados meses.
Michelangelo viveu mil acidentes na criação da obra. Escreveu ao irmão: "Mal tenho tempo de comer. Dia e noite, só penso no trabalho. Já passei por tais sofrimentos e ainda passo por outros que, acredito, se tivesse de fazer a estátua mais uma vez, minha vida não seria suficiente: é trabalho para um gigante." Mas o resultado não compensou. A estátua, quatro anos depois, seria destruída por uma facção política inimiga do papa e transformada em canhão.
Terminada a missão em Bolonha, de novo o papa quer Michelangelo sob suas ordens. Em 1508, ele chega a Roma, pasmado diante da nova tarefa que lhe é encomendada: a pintura do teto da Capela Sistina, um enorme afresco de cuja técnica pouco entende. O papa exigia dele quase o impossível. Mas não havia como recusar a encomenda. Michelangelo tem diante de si um desafio, sobretudo quando, na mesma época, Rafael (1483 - 1520), pleno de glória, pinta, no Vaticano, A Escola de Atenas e A disputa do Santo Sacramento.
Fonte: Mestres da Pintura - Abril Cultural