1 de dezembro de 2012

5º CHÁ, TORRADAS, MÚSICA E POESIA

Texto de abertura do evento, dia 28 passado:

Eleonora Fonseca e Don Tronxo




Boa noite, amigos
Esta noite vamos comemorar O MELHOR DA IDADE. Hoje muito se fala sobre a boa idade, a 3ª idade,   a melhor idade. Preferimos denominar nossa noite O MELHOR DA IDADE.
O que a idade terá de melhor?
Nossa civilização contemporânea, regida pelo capitalismo e por valores bem materialistas, nos leva a verificar uma dualidade em relação à população com mais de 60 anos: por um lado a vemos mais ativa, participativa na sociedade; por outro observamos que o respeito e a reverência que se tinha no passado aos  idosos, anda um pouco esquecida.
Vemos também que há uma certa recusa, talvez possamos até dizer repulsa, ao envelhecimento. E haja cremes, plásticas, tinturas, medicamentos, hormônios, para retardá-lo, para mascarar ou retirar, as marcas da existência. As rugas que falam dos sorrisos ou das lágrimas derramadas, dos sofrimentos, dúvidas ou surpresas vivenciadas em todos estes anos, estão sendo apagadas.
Um corpo é o registro do vivido, e mostra a beleza de cada idade. Por que querer negar a vida? Por que querer negar sua história?
Então, voltemos à nossa pergunta inicial: o que a idade tem de melhor?
Se nos identificamos com o corpo físico, provavelmente responderemos que o avanço da idade só nos traz limitações, doenças, rugas, cabelos brancos, em alguns os cabelos caem, ficam carecas, os dentes também caem...  Mas a  idade nos trará de melhor o que tivermos feito de nossa vida. Ou seja, nos dedicando ao crescimento pessoal, com certeza a idade nos entregará os frutos de nossa jornada. Transformará nossos impulsos e decisões  instintivas em reflexões, paciência, calma. Se antes não necessitávamos de óculos e hoje precisamos, nosso olhar porem passou de superficial ao profundo; nos tornamos capazes de ver o interior das pessoas à nossa volta.
Se levamos uma vida com sentido, se somos movidos por um ideal, o processo de envelhecimento não assusta, ele é apenas mais uma fase a ser vivida, tão boa e surpreendente como a infância, a adolescência, a juventude e a maturidade.
Cada fase da vida tem sua beleza  peculiar, é a melhor no seu próprio tempo, e devemos vivê-la intensamente.
O melhor da idade?
Para mim o melhor da idade, para quem efetivamente aproveita a sua idade, na realidade são 2 coisas: LIBERDADE E SABEDORIA
Liberdade porque nos permitimos SER, SER nós mesmos, aceitando nossas falhas, nossas qualidades, nossas limitações, nossas potencialidades, sendo capazes de rir  de nós mesmos.
Sabedoria porque nos acolhemos enquanto seres livres, nos amamos, vivendo a vida como ela é: uma caminhada de aprendizado rumo à luz e ao amor.



Zilda Monteiro Fonseca



O tema desta noite foi uma fusão de sugestões por parte de Paulo e de Alfredo, meu filho, que tinha em mente sua avó, minha mãe, ZILDA MONTEIRO FONSECA.
Pernambucana de Tejipió, valente,  guerreira, que ainda jovem ousou dialogar e questionar Agamenon Magalhães; que se atrevia a discutir política no Catete, lá no Rio de Janeiro;
Uma mulher de temperamento forte que era capaz de brigar na rua para defender os animais, capaz de enfrentar assaltantes; mas também era capaz de soltar sua voz de médio soprano, tocando seu violão nas noites de lua cheia, à beira mar.  Uma mulher que usava suas mãos para dar forma e vida á fria argila, que encaminhava seus pincéis e ferros de cravação nas bandejas florentinas e nos tripticos sacros, e em tantos outros materiais.
Uma mulher que também era contadora, funcionária pública do Ministério da Agricultura. Uma pesquisadora e historiadora que soube, por amor ao marido e à família, retardar seu sonho. Que apenas a partir dos 60 anos, já viúva e aposentada deixou-se SER, e encontrou-se com o mundo da informática, com a direção de um fusquinha, com a cadeira de membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, com os jovens universitários que a procuravam e  amavam suas orientações e conversas.
Uma mulher que interrompe mais uma vez seu projeto pessoal  para concluir o livro de um amigo que partiu; e para escrever um livro onde rende o devido reconhecimento e homenagem ao Maestro Euclides Fonseca, avô do amor de sua vida, Emilio, meu pai.
Ela enfim prossegue suas pesquisas totalmente documentadas e aos 84 anos parte sem publicar seu livro, quase pronto, o livro que foi o ideal e a motivação de sua vida.
Mas o livro foi publicado, aqui está.






A você, minha mãe, ZILDA, cujo nome significa Guerreira, a ARTE DEMAIS agradece a semente que você plantou com seu exemplo de persistência e dedicação necessários à realização de um sonho.
E eu, Eleonora, sua filha, agradeço a oportunidade de ter nascido e ter sido criada em um lar onde a música, a literatura e a arte estavam presentes em todos os momentos.