Texto de abertura do evento, dia 28 passado:
Eleonora Fonseca e Don Tronxo |
Boa noite, amigos
Esta noite vamos comemorar O
MELHOR DA IDADE. Hoje muito se fala sobre a boa idade, a 3ª idade, a melhor idade. Preferimos denominar nossa
noite O MELHOR DA IDADE.
O que a idade terá de melhor?
Nossa civilização contemporânea,
regida pelo capitalismo e por valores bem materialistas, nos leva a verificar
uma dualidade em relação à população com mais de 60 anos: por um lado a vemos
mais ativa, participativa na sociedade; por outro observamos que o respeito e a
reverência que se tinha no passado aos idosos, anda um pouco esquecida.
Vemos também que há uma certa
recusa, talvez possamos até dizer repulsa, ao envelhecimento. E haja cremes,
plásticas, tinturas, medicamentos, hormônios, para retardá-lo, para mascarar ou
retirar, as marcas da existência. As rugas que falam dos sorrisos ou das
lágrimas derramadas, dos sofrimentos, dúvidas ou surpresas vivenciadas em todos
estes anos, estão sendo apagadas.
Um corpo é o registro do vivido,
e mostra a beleza de cada idade. Por que querer negar a vida? Por que querer
negar sua história?
Então, voltemos à nossa pergunta
inicial: o que a idade tem de melhor?
Se nos identificamos com o corpo
físico, provavelmente responderemos que o avanço da idade só nos traz
limitações, doenças, rugas, cabelos brancos, em alguns os cabelos caem, ficam
carecas, os dentes também caem... Mas a idade nos trará de melhor o que tivermos feito
de nossa vida. Ou seja, nos dedicando ao crescimento pessoal, com certeza a
idade nos entregará os frutos de nossa jornada. Transformará nossos impulsos e
decisões instintivas em reflexões,
paciência, calma. Se antes não necessitávamos de óculos e hoje precisamos,
nosso olhar porem passou de superficial ao profundo; nos tornamos capazes de
ver o interior das pessoas à nossa volta.
Se levamos uma vida com sentido,
se somos movidos por um ideal, o processo de envelhecimento não assusta, ele é
apenas mais uma fase a ser vivida, tão boa e surpreendente como a infância, a
adolescência, a juventude e a maturidade.
Cada fase da vida tem sua beleza peculiar, é a melhor no seu próprio tempo, e
devemos vivê-la intensamente.
O melhor da idade?
Para mim o melhor da idade, para
quem efetivamente aproveita a sua idade, na realidade são 2 coisas: LIBERDADE E
SABEDORIA
Liberdade porque nos permitimos SER,
SER nós mesmos, aceitando nossas falhas, nossas qualidades, nossas limitações,
nossas potencialidades, sendo capazes de rir de nós mesmos.
Sabedoria porque nos acolhemos
enquanto seres livres, nos amamos, vivendo a vida como ela é: uma caminhada de
aprendizado rumo à luz e ao amor.
O tema desta noite foi uma fusão
de sugestões por parte de Paulo e de Alfredo, meu filho, que tinha em mente sua
avó, minha mãe, ZILDA MONTEIRO FONSECA.
Pernambucana de Tejipió,
valente, guerreira, que ainda jovem
ousou dialogar e questionar Agamenon Magalhães; que se atrevia a discutir
política no Catete, lá no Rio de Janeiro;
Uma mulher de temperamento forte
que era capaz de brigar na rua para defender os animais, capaz de enfrentar
assaltantes; mas também era capaz de soltar sua voz de médio soprano, tocando
seu violão nas noites de lua cheia, à beira mar. Uma mulher que usava suas mãos para dar forma
e vida á fria argila, que encaminhava seus pincéis e ferros de cravação nas
bandejas florentinas e nos tripticos sacros, e em tantos outros materiais.
Uma mulher que também era
contadora, funcionária pública do Ministério da Agricultura. Uma pesquisadora e
historiadora que soube, por amor ao marido e à família, retardar seu sonho. Que
apenas a partir dos 60 anos, já viúva e aposentada deixou-se SER, e
encontrou-se com o mundo da informática, com a direção de um fusquinha, com a
cadeira de membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de
Pernambuco, com os jovens universitários que a procuravam e amavam suas orientações e conversas.
Uma mulher que interrompe mais
uma vez seu projeto pessoal para
concluir o livro de um amigo que partiu; e para escrever um livro onde rende o
devido reconhecimento e homenagem ao Maestro Euclides Fonseca, avô do amor de
sua vida, Emilio, meu pai.
Ela enfim prossegue suas
pesquisas totalmente documentadas e aos 84 anos parte sem publicar seu livro,
quase pronto, o livro que foi o ideal e a motivação de sua vida.
A você, minha mãe, ZILDA, cujo
nome significa Guerreira, a ARTE DEMAIS agradece a semente que você plantou com
seu exemplo de persistência e dedicação necessários à realização de um sonho.
E eu, Eleonora, sua filha,
agradeço a oportunidade de ter nascido e ter sido criada em um lar onde a
música, a literatura e a arte estavam presentes em todos os momentos.